MI MI MI: RACISMO INVERTIDO?

Fonte: https://pixabay.com/pt/africa-mulher-pessoas-%C3%A1frica-afro-811866/

Se você é uma pessoa crítica, ao ler a frase acima você deve ter ficado curioso quanto ao assunto que eu irei abordar hoje. Sim, esse “mi mi mi” que muitos internautas utilizam para se referir ao racismo. O que você pensa sobre isso? Será que o feitiço virou contra o feiticeiro e agora o alvo de racismo são os brancos? Meu objetivo é que você reflita sobre o racismo e se conscientize, para isso abordarei os aspectos históricos dessa construção estigmatizada sobre os negros. E mostrarei uma das formas que a Psicologia Social tem contribuído para reduzir o racismo.

Primeiramente vamos definir o que é o Racismo. Na Psicologia Social, Racismo está dentro do campo de estudo sobre preconceito que está numa classe ainda maior que são as atitudes, mas diferentemente do que o senso comum entende sobre atitudes (Como uma tomada de ação) a atitude possui três componentes: O componente cognitivo, afetivo e comportamental. 

O componente cognitivo seria os estereótipos que construímos socialmente, os estereótipos são as crenças que atribuímos a determinadas características de pessoas ou grupos. Tendemos a agir com base em experiências particulares, por exemplo: uma mulher está andando na rua e tem um homem se aproximando, logo ela pensa ser um bandido. O fato de um homem ter assaltado ou agredido uma mulher em alguma outra experiência não significa que todos os homens vão se aproximar de uma mulher para proceder da mesma forma, ele poderia pedir uma informação. Isso é um exemplo de estereótipo. Uma pessoa pode desgostar de um grupo e comportar-se de modo ofensivo, de acordo com as crenças negativas que foi construída. Esse desgostar é o sentimento negativo, componente afetivo da atitude de racismo. Quando uma pessoa passa a se comportar a partir de suas crenças negativas, chamamos de discriminação, no entanto, pode haver racismo sem necessariamente haver o ato discriminatório. A discriminação, portanto, é o componente comportamental. Aprender a ter racismo é uma tarefa fácil, o difícil é eliminá-lo. 

Quando começamos a estudar a história do Brasil vemos as condições precárias que os negros trazidos da África foram submetidos. Não falarei detalhadamente sobre este momento especifico da história pois renderia um debate extenso e intenso. O que sabemos é que os negros foram trazidos à força, foram escravizados trabalhando intensamente, muitas vezes ficando 18 horas trabalhando, sem nenhum benefício. 

Outro fato, a abolição da escravatura no Brasil foi tardia e não ofereceu condições de subsistência para os negros, assim, eles tiveram que “se virar” foi neste período que começou os trabalhos informais chamado hoje de “Bico” e apesar deles terem experiência, foram considerados inúteis para trabalhar dignamente e tiveram que concorrer com muitos imigrantes, nem preciso dizer quem teve mais oportunidades né? (Sem falar que a escravidão não foi abolida porque tiveram empatia com os negros e resolveram repensar suas atitudes). Nesse período tiveram que entrar por caminhos ilegais como o tráfico de drogas e a prostituição para poderem sobreviver. Sem contar inúmeros impactos que afetam até hoje a história do negro. 

Em outras palavras, não havia espaço para o negro, a marca de escravo estava colado à ele. E, desde então, tem sido essa a imagem atribuída ao negro, só que com o decorrer dos anos temos vivenciado uma nova forma de racismo, ainda mais perigosa, é o que chamamos de racismo velado e sutil, uma prova disso é a presença de muitos internautas que se opõe a quaisquer formas de representatividade negra alegando ser uma forma de racismo aos brancos, que isso é “mi mi mi”, ou que estão se fazendo de vítima. A primeira coisa a considerar: o negro não se faz de vítima, ele é a vítima. Vítima desses comentários maldosos e sem nenhum pensamento crítico. Segundo, qual a criança negra que nunca quis ser branca por se considerar diferente? Ela lê livros ilustrados e não tem ninguém parecido com ela, ela assiste desenhos na TV e não tem nenhum personagem negro, a não ser no sitio do Pica Pau amarelo, que renderia mais um debate. A criança quer ser branca porque esse é o padrão imposto na sociedade. O negro, durante muito tempo não assumiu (e ainda hoje tem dificuldade de assumir) a sua identidade, tudo o que ele puder fazer para ser mais parecido com o branco ele faz, porque é difícil ser negro. É difícil procurar condições dignas de vida e ser deixado por último tendo as mesmas habilidades do branco. 

Concluímos que, o negro, por essa longa história de relações de poder, é muito mais suscetível a sofrer racismo que o branco.  Hoje, quando vejo que os negros tem cada vez mais assumido a sua história, valorizado seus traços, sua identidade, lutado para serem tratados humanamente, vejo a esperança de desconstruirmos estas crenças construidas nesta história trágica, contudo, acredito que ainda demandará tempo para que de fato isso aconteça.

O papel da Psicologia Social, como venho refletindo, é problematizar temas como este, fazendo com que todos assumam a sua responsabilidade pelo racismo ainda existente e, assumindo, possam mudar suas concepções. Uma das formas que a Psicologia Social tem proposto para se reduzir o preconceito é a hipótese do contato, em que grupos distintos conviveriam próximos, o que somente pode ser válido se houver duas condições: os objetivos superiores e a interdependência mútua. Significa que os objetivos devem ser comuns aos dois grupos e que somente com a cooperação, por meio de atividades, ações, enfim, seria possível alcançá-los, isto é, haveria essa interdependência. Indico para aqueles que desejam saber mais sobre o assunto as referências ao final deste texto.



Até a próxima!

Bjos de (Dri) Luz 



REFERÊNCIAS

Olhos Azuis (documentário). Dir.: Jane Elliott. EUA, 1985. Disponivel em < https://youtu.be/In55v3NWHv4> Acesso em 14 de Outubro de 2016.

RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L.; JABLONSKY, B. Psicologia social. 23ª ed. Petrópolis: Vozes, 2005.

SANTOS, Hélio. A busca de um caminho para o Brasil. 2º Edição. Senac SP, 2001.

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